11/05/2012
Ano 15 - Número 786

ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO

 

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Enéas Athanázio


LIVROS, AUTORES, LEITORES ETC.

Enéas Athanázio - Colunista, CooJornal

Meu velho amigo Nege Além, escritor que conheço desde a época da publicação de meu primeiro livro, deu a público um novo trabalho. Trata-se de “O Engraxate Dudu” (UBE/Scortecci – S. Paulo – 2010), um romance dos mais humanos e tocantes sobre a trajetória do menino pobre, sempre à beira da miséria, que, graças ao esforço próprio e à determinação de vencer, é aprovado no difícil concurso para ingresso num banco, como funcionário, objetivo alcançado de maneira honesta, sem as espertezas e as malandragens com as quais muita gente pretende subir na vida sem esforço. Escrito de maneira simples e direta, o texto transpira sentimento e sinceridade. A luta do pobre engraxate, superando todos os obstáculos, engolindo “sapos” e suportando humilhações, é capaz de penetrar em todos os corações, mesmo naqueles empedernidos e duros que ignoram solenemente o sofrimento dos menos aquinhoados nesta vida. Está de parabéns o veterano escritor, embora eu alimente minhas dúvidas sobre o sucesso de um romance com tal entrecho nestes dias bicudos.

Nege Além é autor de vários outros livros, dentre os quais “Rua Taboão”, coletânea de contos que tive ocasião de comentar na época do lançamento, “O Velho Ipê Amarelo” e “Mágoa de Convocado”, todos lidos com interesse. Participou em diversas antologias de contos, tem publicado trabalhos na imprensa e pertence a várias entidades literárias.
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Graças ao empenho do lobatiano Trajano Pereira da Silva, um “expert” em Monteiro Lobato e sua obra, tenho em mãos duas preciosidades literárias. Trata-se dos livros “Geografia pitoresca para crianças”, de autoria do inglês V. M. Hillyer, e “Pequena história do mundo para crianças”, do mesmo autor, ambos publicados pela Companhia Editora Nacional (S. Paulo – 1951). São volumes encadernados, com numerosas e ricas ilustrações, daqueles que atraem à primeira vista e que, sem dúvida, contribuiriam para aumentar o número de jovens leitores caso fossem ainda publicados e com os recursos gráficos atuais.

Mais interessante ainda é que ambos os livros foram traduzidos e adaptados para o português por Godofredo Rangel, o grande amigo de Monteiro Lobato de quem sou até hoje o único biógrafo. Rangel foi também dedicado tradutor e estou empenhado há longos anos em relacionar todas as traduções por ele realizadas, das quais já descobri 61, do inglês, do francês e do italiano, entre as quais estas duas. Além de leitura das mais curiosas, os dois volumes ainda têm essa característica singular.
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Olga Savary, conhecida poeta, cronista, contista e tradutora, acaba de me oferecer um exemplar de “Poesia viva em revista”, publicada pelo jornal “Poesia viva”, o único periódico nacional dedicado exclusivamente à poesia. Neste número a revista publica obras de diversos poetas, em sua maioria conhecidos, e também ensaios, destacando-se entre estes “A poeta da Amazônia – A poeta das águas”, de autoria de Augusto Sérgio Bastos, e “Caminhos de Rosa”, de Léa Madureira. O primeiro aborda as várias facetas de Olga Savary, destacando sua intensa atividade cultural e analisando sua variada obra em verso e prosa. É um ensaio consagrador, rico em informações e análises. O segundo analisa aspectos da obra de Guimarães Rosa, sua linguagem, a interação com a música popular e o cinema e a síntese do regionalismo e do espiritualismo em seus romance e contos. É também um trabalho modelar, revelando aspectos mal conhecidos ou mesmo desconhecidos da monumental literatura do mineiro de Cordisburgo. Entre as revelações feitas pela ensaísta, consta a informação de que Guimarães Rosa foi indicado ao Prêmio Nobel de Literatura pelos seus editores estrangeiros, indicação prejudicada pela sua inesperada morte. (Endereço da revista: Avenida Olegário Maciel, 5 1 1 – Cob. 0 3 – Barra da Tijuca – 22621-200 – Rio de Janeiro).
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Embora nascido no Canadá, filho de judeus russos, Saul Bellow (1915/2005) cresceu e viveu em Chicago, cidade onde ambientou vários de seus livros e cuja vida descreveu em seus escritos. Considerado um dos gigantes do romance americano, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1976, por “sua compreensão humana e sua análise sutil da cultura contemporânea.” Seu livro “As Aventuras de Augie March”, traduzido para o português por Sonia Moreira e publicado pela Companhia das Letras (S. Paulo – 2009), é um vasto painel da sociedade americana na região do meio-oeste que se estende por 700 páginas compactas. É apontado como um romance de fundo memorialista em que pessoas de sua família e de suas relações são elevadas ao status de grandes personagens literários, descritos com simpatia, humor e boas doses de ironia. O personagem central, que se presume seja o próprio, é descrito como um inútil, sem maior serventia, desastrado e inábil para o trabalho, sem merecer qualquer compaixão. E, no entanto, por detrás do menino estouvado escondia-se o gênio literário que despontaria mais tarde. O livro é minucioso, detalhista, e vai se desenrolando sem pressa, como quem dispõe da eternidade. Mas é uma leitura que cativa, vai “pegando” o leitor e deixando-o sempre curioso com o que possa acontecer na página seguinte. É um esforço que vale a pena.
                 

(11 de maio/2012)
CooJornal nº 786



Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC


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