03/02/2012
Ano 15 - Número 772

ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO

 

Follow RevistaRIOTOTAL on Twitter

Enéas Athanázio


 O SÉCULO XX

Enéas Athanázio - Colunista, CooJornal

Segundo o historiador Eric Hobsbawn, o Século XX foi o mais curto da História, iniciando-se com a I Guerra Mundial, em 1914, e terminando com a extinção da União Soviética, em 1989. Os anos anteriores ao início, em virtude da cultura e do ambiente dominantes, ainda pertenceriam ao Século anterior, ao passo que os anos posteriores, pelas mesmas razões, já se identificavam com o novo. Dizia ainda que, enquanto o Século XX teria sido o das ideologias, este será o da violência. Como só vimos até agora uma década do novo, não é possível afirmar que a violência predominará, ainda que as amostras sejam muito convincentes.

Mas, com seus altos e baixos, o Século XX foi um período repleto de acontecimentos, em inúmeras áreas, que tiveram influência decisiva na história da humanidade, razão pela qual costuma fascinar estudiosos, pesquisadores e pensadores, como aconteceu com o Prof. Geoffrey Blainey, cujo livro “Uma breve história do Século XX”, publicado no Brasil pela Editora Fundamento (2009), se tornou best-seller internacional. Em linguagem direta e acessível, ele faz um balanço de tudo que ocorreu de importante entre 1900 e 2000, apontando com precisão os avanços e recuos, fornecendo ao leitor uma visão panorâmica desses anos tão conturbados e quase sempre tensos. Vale também como interessante recapitulação dos acontecimentos para quem os acompanhou, pelo menos em parte, no seu dia a dia.

Além de duas guerras mundiais, violentas e mortíferas como nunca, o Século XX viveu os dias angustiantes da Guerra Fria e várias revoluções de graves consequências, sem falar nas guerras localizadas em vários pontos do mundo. Houve momentos em que o planeta esteve à beira da hecatombe nuclear e os dois blocos em que se dividia o mundo pareciam inclinados a detonar seus arsenais atômicos, mesmo conscientes de que não haveria vencidos e nem vencedores. Mas o bom senso acabou prevalecendo, os recuos aconteceram a baixou a tensão. Grandes revoluções mudaram a feição do mundo, entre elas a Revolução Russa de 1917, a Revolução Chinesa de 1949 e, no Brasil, a Revolução de 1930, provocando alterações jamais esperadas no status quo vigente nos países e nas regiões. Em função delas, o mapa mundi sofreu intensas alterações, países desapareceram e sugiram, outros se fracionaram ou anexaram, enquanto o Brasil, impávido, permanecia uno apesar de tudo, numa espécie de milagre que teve a língua como importante elemento unificador. Num país continental é admirável que seja falada a mesma língua, sem dialetos, embora com rica variação de sotaques.

Em compensação, os avanços foram consideráveis em todas as áreas. As grandes massas populacionais, antes rurais, se transferiram para as cidades, surgindo um fenômeno novo – as megalópoles, exigindo a revisão dos conceitos de urbanismo até então vigentes. As invenções e aperfeiçoamentos se sucederam em grande velocidade. A aviação, o automóvel, a medicina, os medicamentos, as diversas espécies de energia, o cinema, a televisão, os meios de comunicação, a informática, a internet, as diversões, a pílula anticoncepcional, a exploração do espaço, a alfabetização e numerosos outros setores se desenvolveram “numa tempestade de mudanças” – como escreveu o autor – alterando de maneira substancial a face do velho mundo. Até as línguas sofreram mudanças e algumas desapareceram enquanto umas poucas de universalizaram. As preocupações ecológicas entraram ma vida de todos, conscientizando as pessoas desde a infância. As viagens se tornaram comuns, rápidas e quase sempre seguras. A renda, ainda que de maneira desigual, tem sido melhor distribuída e as reivindicações organizadas indicam novos avanços, como também no reconhecimento de direitos sociais e trabalhistas. Enfim, conclui o historiador, o Século XXI pode encarar o futuro com otimismo em virtude da herança recebida de seu antecessor. Entretanto, enfatiza ele, “A grande questão do Século XXI é justamente saber se a paz nuclear irá persistir e, comparados a ela, todos os outros problemas perdem a importância” (pág. 309).

Ainda que permeado de indisfarçável americanismo (não admite, por exemplo, que Santos Dumont inventou o avião) e um tanto superficial no trato de certas matérias, o livro é uma leitura agradável e compensadora, justificando a sua admirável aceitação.
 

(03 de fevereiro/2012)
CooJornal nº 772



Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC


Direitos Reservados