05/06/2010
Ano 13 - Número 687


 

ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO

 

Enéas Athanázio




IMORTALIZOU UM POVO E CONDENSOU A PAISAGEM



 

Enéas Athanázio, colunista - CooJornal

Gaitano Antonaccio é produtivo poeta e escritor amazonense, autor de quase uma centena de obras, em prosa e verso, além de incansável agitador cultural. Ao se fecharem os dias de 2008, publicou de uma só vez três livros, dando assim um passo largo em sua já extensa bibliografia. Desta vez, todas as obras são biobibliográficas, ou seja, ensaios em que analisa a vida e a obra de três destacadas personalidades de sua terra. Trata-se de “Antônio de Andrade Simões na Amazônia – Os desafios de um empreendedor” (Editora Komedi – Campinas/SP), “A Semeadora”, sobre a Professora Martha de Aguiar Falcão (Editora Komedi – Campinas/SP) e “Moacir Andrade – Um arco-íris na Amazônia” (IOEA – Manaus), todos fundados em longas pesquisas e bem ilustrados de elementos iconográficos. Na impossibilidade de comentar cada um deles, como mereceriam, cinjo-me apenas ao último, mesmo porque é o que me diz mais de perto em face das atividades do biografado.

Homem de múltiplos talentos, Moacir Andrade é, acima de tudo, um pintor. Sua sensibilidade capta a natureza amazônica de forma admirável e sabe modular as cores com mão de mestre. Os críticos de arte, em manifestação quase unânime, destacam essa faceta de sua arte, a exuberância das cores que coloca em telas e painéis que retratam a grandiosidade da selva, com seus rios, igarapés, igapós, furos, fauna, flora e gente. É um apaixonado intérprete da natureza verdejante e selvagem de uma região tão rica quanto mal conhecida, inclusive dos brasileiros em geral. Com esse domínio da arte e da técnica, Moacir Andrade se transformou numa espécie de embaixador da região e seus trabalhos ganharam o Brasil e vários outros países graças a exposições e mostras realizadas, sempre com grande aceitação da crítica e do público. Em sucessivas viagens, levou sua arte a grande parte do mundo e com ela os mistérios da selva e o caráter de seu povo. Além de pintor por excelência, ele é escritor e poeta, professor e estudioso de temas antropológicos. Em razão de suas cores, o biógrafo afirma que ele é um arco-íris na Amazônia.

A obra do pintor manauara tem atraído os olhares de grandes expoentes da cultura brasileira e universal, ainda que ele não seja conhecido entre nós como seu talento mereceria, o que se deve às notórias e limitadoras ilhas culturais brasileiras. Dentre outros, escreveram sobre a pintura de Moacir Andrade figuras como Jorge Amado, Thiago de Mello, Menoti Del Picchia, Manuel Bandeira, Câmara Cascudo, Guimarães Rosa, Vinicius de Moraes, Gilberto Freyre e Clarice Lispector, que afirmou: “A golpes de pincel em dimensionais telas (que já percorreram o mundo) Moacir imortalizou um povo e condensou a paisagem (palavras que usei como título). A Amazônia inteirinha está em suas telas” (p. 74). No Exterior, consagrando o artista, falaram Jean-Paul Sartre, em magníficas palavras, Eurico de Andrade Alves, escritor português, Margot Fonteyn, célebre atriz francesa, Gabriel García Márquez, detentor do Prêmio Nobel, para referir apenas alguns. Em conseqüência, inúmeras têm sido as homenagens prestadas ao artista, no Brasil e no Exterior.

Por tudo isso e muito mais, em boa hora surgiu este livro, levando bem longe o nome do talentoso retratista da Amazônia. E que estas linhas registrem que por aqui ele repercutiu, quebrando o lamentável silêncio que costuma cercar tantas obras de valor.


(05 de junho/2010)
CooJornal no 6867


Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC

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