01/05/2010
Ano 13 - Número 682


 

ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO

 

Enéas Athanázio




TELEVISÃO E SOCIEDADE



 

Enéas Athanázio, colunista - CooJornal

Em entrevista concedida a importante revista cultural (*), o sociólogo e jornalista Laurindo Lalo Leal abordou interessantes aspectos das relações entre a televisão e o rádio com a sociedade, alguns deles conhecidos mas sobre os quais costuma reinar completo silêncio. Especialista em televisão e professor da ECA-USP, autor de vários livros sobre o tema, ele discorreu com inteira liberdade sobre questões relacionadas a esses meios de comunicação. A conclusão final, implícita na entrevista, é de que a televisão no Brasil é um veículo irresponsável, do ponto de vista social, preocupado apenas com audiência e lucro, e com influência na dissolução de princípios éticos, no aumento da criminalidade, da violência e da disseminação do uso das drogas. São conclusões que, no meu entender, ninguém pode em sã consciência negar. A televisão, em especial com seus filmes de má qualidade, é verdadeira escola para os mal intencionados.

A noção de que a televisão aberta é gratuita – lembra ele – é uma ilusão porque as pessoas em geral não percebem que o formidável investimento em propaganda aparece embutido nos preços de todas as utilidades. “A televisão é a única janela para o mundo para 150 milhões de brasileiros. Ela chega para essas pessoas, aparentemente, de forma gratuita. Elas nem percebem, na compra da cerveja ou do xampu, que essa é a forma de financiamento da televisão. É o único bem cultural que chega de forma gratuita ao cidadão. O jornal, a revista, o cinema são pagos.” Em consequência, ainda que seja uma concessão pública, é a propaganda que dita os rumos da programação. Para completar, ao contrário de outros bens culturais, quase não existe crítica de televisão porque “o espaço é muito limitado, fica muito difícil estabelecer qualquer organismo crítico mais organizado” – acentua. Lembra ainda que os grandes jornais, também proprietários de emissoras de televisão e de rádio, não concedem espaços para crítica nas suas próprias publicações. Não havendo crítica, cai a qualidade e o lixo cultural predomina.

A influência da televisão nos resultados das eleições também é abordada por ele. “Ela influi no processo democrático... Ela tem uma influência direta e esse é um problema para a democracia” – diz o entrevistado. Afirmando não ser necessário recordar os exemplos recentes, acentua a “presença diária dos interesses da empresa sobre os interesses da sociedade” e invoca pesquisas de campo que demonstram a influência do Jornal Nacional nas eleições de 2002 e 2006, com dados concretos. Mesmo que a emissora não abrace de maneira aberta certa candidatura, existe sempre o jeito tendencioso de divulgar as notícias, até mesmo na forma de sua redação e da própria entonação ao veicular os fatos. “Porque ali – diz – não era apenas uma análise quantitativa de dar tantos minutos para um ou para outro, mas era uma análise qualitativa que estabeleceu valores para as falas dos candidatos e dos apresentadores.”

A propaganda voltada para as crianças no chamado horário infantil é outra de suas preocupações. Mostra que em outros países essa forma de divulgação é regulada de forma mais rígida e mais vigiada que entre nós. “Muitos deles têm a programação de produtos infantis só a partir das 21h sob a ideia de que quem compra são os pais, não são as crianças, então eles têm que ofertar para os pais e não para as crianças. Depois, há uma outra série de mecanismos restritivos. Por exemplo, você não pode mostrar um brinquedo dando a ideia de que ele é maior do que a realidade ou de que ele chega na sua casa voando quando ele não voa.” Basta comparar com a realidade brasileira.

Outros pontos são tratados na entrevista mas ficam para oportunidade futura porque há muito a comentar. A discussão e solução desses problemas, conclui o sociólogo, são indispensáveis para a consolidação de uma completa democracia.


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(*) “Revista E”, publicação do SESC-SP, janeiro de 2009.



(01 de maio/2010)
CooJornal no 682


Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC

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