11/04/2009
Ano 12 - Número 627


 

ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO

 

Enéas Athanázio




FILHA DO SOL DO EQUADOR



 

Vários livros de valor têm batido à minha porta aqui neste cantão de praia onde resido. Quatro deles, nestes últimos dias, são oriundos da região do Meio-Norte, mais especificamente de um de seus componentes – o Piauí. É tão surpreendente e variada a produção piauiense na área das letras que não me canso de ler e comentar as obras que de lá recebo. Lamento apenas que minha voz seja fraca, sem esses alcances, para que o restante do Brasil, em geral desinformado, tome conhecimento dos romancistas, contistas, cronistas, ensaístas, críticos, poetas e historiadores do Estado banhado pelo majestoso Parnaíba, o “Velho Monge.”

O primeiro deles é “Geografia e História do Piauí para Estudantes”, livro-álbum em tamanho grande, com os fins didáticos propostos pelo título, mas que supre de conhecimentos os que não sabem e vale como recapitulação aos que conhecem. Bem pesquisado e ilustrado, escrito em linguagem clara a precisa, contém uma súmula tão completa quanto possível do Piauí, desde a pré-história até a atualidade. Aspectos fisiográficos, divisão administrativa, regiões e microrregiões, clima, vegetação, indústria, agricultura, comércio, o meio, o homem, a pré-história, a história, os índios, as figuras emblemáticas da colonização (o vaqueiro, o escravo, os jesuítas), as lutas da colonização e da independência, até atingir o estágio atual, - o Estado do Piauí, - com sua conformação singular, o povoamento sul/norte, a transferência da capital, a população de hoje, economia, ciência, artes, inclusive a literária, e os inevitáveis enlevos da política. Sem omitir personalidades importantes, episódios marcantes (incêndios de Teresina, enchentes, secas periódicas etc.) e os expoentes da área cultural, símbolos locais e manifestações folclóricas. Tudo embasado em boas fontes e numa ampla bibliografia, de maneira a fornecer informações completas ao leitor interessado. Trata-se, pois, de excelente contribuição ao conhecimento do Estado e, para mim, à distância, para unificar conhecimentos esparsos e rever eventuais equívocos.

Dois livros são de autoria de um jovem historiador, de cuja pena profetizo que sairão muitas contribuições ao seu Estado e ao país. Refiro-me a “Piauí em Foco” e “”Bertolínia – História, Meio e Homens”, ambos de Reginaldo Miranda, nascido em 1964, portanto nem sequer chegado aos trinta. No primeiro, dividido em três partes, aborda os fatos da história e da realidade piauiense, os livros e outros temas e os vultos de ontem e de hoje na trajetória do Estado. Os vaqueiros que iniciaram o povoamento, as trilhas da morte, a vida dura no sertão, as grandes secas, o surgimento das vilas, a reação dos indígenas, a cabotagem, o feudo e outros tantos aspectos são episódios repletos de vida e interesse. A súmula biográfica dos vultos eminentes da história registra os traços de suas personalidades e a contribuição de cada um. Embora lastreado em muita pesquisa, o autor não se enreda em detalhes dispensáveis e sabe construir uma história cheia de vida e com a presença de gente, tão diferente do que costuma ocorrer em tantas obras convencionais do gênero. O segundo volume, publicado em nova edição, ampliada e atualizada, empreende o levantamento do passado histórico de Bertolínia, antiga Aparecida, a cidade natal do autor. É também um trabalho minucioso e recheado de informações que vale como ensinamento e homenagem.

Para concluir, registro aqui o livro “Caracol na História do Piauí”, agora lançado em sua quarta edição, fato que constitui, por si só, um grande feito entre nós. Seu autor é o veterano escritor William Palha Dias, bem conhecido dos que se envolvem nestas coisas de letras, romancista, cronista, historiador, documentarista, cujas obras já tive ocasião de comentar mais de uma vez. Neste volume, de excelente feição gráfica, o autor descreve sua terra natal desde os primórdios até os dias de hoje, destacando a origem, o povoamento, a exploração da maniçoba, a luta pela lagoa, a construção do açude, as personalidades, os azares da política e muitos outros aspectos dessa cidade que lhe serviu de berço.

Todos são trabalhos que exaltam a sofrida luta de um povo corajoso e denodado, decidido a batalhar sem descanso pela terra que é “filha do sol do Equador”, para usar as palavras de Da Costa de Silva, inscritas no hino do Piauí.

 

(11 de abril/2009)
CooJornal no 627


Enéas Athanázio,
jurista e escritor
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC

Direitos Reservados