14/06/2008
Ano 11 - Número 585


 

ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO

 

Enéas Athanázio


 

A ESTRADA
 

Monteiro Lobato dividia as cidades em “com apito” e “sem apito.” Aquelas eram as que estavam à beira das ferrovias, onde o trem passava apitando, ligando-as ao restante do país, à vida e ao progresso; estas as que ficavam longe de tudo, sem ligação com o mundo, marginalizadas. Hoje, com certeza, ele as dividiria em cidades “com asfalto” e “sem asfalto”, pelas mesmas razões.

Essas lembranças me ocorreram ao saber que duas cidades onde vivi acabam de ser, afinal, ligadas por asfalto à rede rodoviária nacional: Anita Garibaldi, a primeira comarca onde fui Promotor de Justiça, iniciando minha carreira, e Calmon, onde passei boa parte da infância e juventude. É um fato importante para essas comunidades e para mim, deixando-as mais acessíveis e facilitando as visitas.

Nos tempos em que morei em Calmon a estrada entre Caçador e Porto União, passando por Calmon e Matos Costa, era péssima e, em alguns trechos, praticamente não existia. Entre Calmon e Caçador era carroçável, mas no trecho entre Calmon e Matos Costa se dividia em carreiros lamacentos que se perdiam pelo campo. Só os “fordecos” e, mais tarde, os “jeeps”, conseguiam passar por ali, ainda mais durante as chuvaradas de inverno. Uma simples viagem de sessenta quilômetros, até Porto União, constituía uma aventura que poderia acabar mal, dependendo da sorte dos viajantes. Depois, à custa de muita reclamação e pedidos, a estrada foi melhorada e ganhou o pomposo nome de Estrada da Amizade, mas isso após ter provocado inacreditáveis padecimentos àquele pobre povo que por ali vivia, abandonado à própria sorte.

Por essas e outras, é uma dádiva que Calmon e Matos Costa estejam agora ligadas ao mundo por uma bela estrada asfaltada. Mas é necessário que ela seja usada com atenção para não se transformar em palco de tragédias, como costuma acontecer sempre que uma rodovia chega, conforme testemunhei em outros lugares. E também precisa ser conservada e respeitada, evitando-se o excesso de peso dos caminhões e a passagem de veículos que causem danos. Uma estrada é uma conquista do povo, implica elevado investimento pelos cofres públicos e merece uma vigilância permanente para que preste bons serviços a todos e por longos anos.

Parece um sonho, mas Calmon e Anita Garibaldi agora “estão logo ali...” 




(14 de junho/2008)
CooJornal no 585


Enéas Athanázio,
jurista e escritor
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC