17/03/2007
Ano 10 - Número 520


 

ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO

 

Enéas Athanázio


 

NERUDA NO CORAÇÃO

 

Nascido em Parral, no Chile, “região virginal de frios e tempestades”, transformou-se num nome universal, conhecido e lido em todo o mundo, com obras traduzidas e declamadas nas mais estranhas línguas. Creio que nenhum escritor latino-americano foi tão querido e aclamado, tanto que se dizia que os leitores o carregavam no coração. E a confirmação da “intelligentsia” mundial veio com o Prêmio Nobel, em 1971. Filho de um ferroviário, enfrentou ingentes dificuldades até se transformar em cidadão do mundo. Diplomata, senador, conferencista, doutor “honoris causa” de grandes universidades, foi acima de tudo poeta, a única condição a que realmente aspirou e alcançou como poucos. Viveu com intensidade a vida do escritor, publicando, participando, viajando, declamando, recebendo prêmios e distinções. Tornou-se verdadeiro mito e sua vivenda, na “Isla Negra”, com as coleções de livros, brinquedos, caravelas. objetos pessoais e artísticos, moluscos e escritos provocou a admiração mundial. A publicação de suas memórias, “Confesso que Vivi”, um dos trabalhos mais lidos no gênero, e, recentemente, o aparecimento do romance “O Carteiro e o Poeta”, de António Skármeta, depois vertido para o cinema, reforçaram o interesse por ele e sua obra.

Batizado Ricardo Eliezer Neftalí Reyes y Basoalto, em outubro de 1920 adotou o nome de Pablo Neruda pelo resto de seus dias e como tal ficou conhecido. Desde cedo seus poemas caíram no gosto do público e da crítica, conquistando invulgar popularidade, não apenas no país natal, mas também em toda a comunidade de língua espanhola e se estendendo ao mundo inteiro, inclusive ao Brasil, onde tem incontáveis leitores. Os livros “Canto Geral”, reunindo uma seleção de suas mais sentidas poesias e o mais extenso de todos, “Cem Sonetos de Amor” e “Residência na Terra” estão entre os mais admirados. O primeiro do trio foi leitura obrigatória de inúmeras gerações de brasileiros, mas tudo que escrevia, em poesia ou prosa, era consumido com interesse pelo público leitor. Tinha grande admiração pelo nosso país, onde esteve diversas vezes, e privou da amizade de Jorge Amado, de cuja casa foi hóspede, e de outros brasileiros. Homem de irradiante simpatia e palavra calorosa, a figura do poeta contribuiu de forma decisiva para a veneração que lhe era tributada. Candidato à presidência do Chile, desistiu da candidatura para apoiar Salvador Allende, falecendo doze dias após o golpe militar que derrubou o presidente, como se o destino o poupasse das barbaridades que viriam em seguida sob o tacão de Pinochet.

Nascido em 12 de julho de 1904, completa-se neste ano o centenário de nascimento do poeta. Celebrações, eventos e publicações acontecerão em todo o mundo para lembrar a data. A Espanha, país que ele cantou em célebre poema, organiza e maga-exposição “Neruda no Coração”, reunindo muito dele e sua produção literária. Entre nós, trabalhos serão publicados e eventos diversos celebrarão sua memória. Antecipando os festejos, a Editora Bertrand Brasil publicou, no ano passado, o volume “Pelas Praias do Mundo”, antologia de crônicas, contos e artigos, organizada por Jaime Quezada, que dá bem uma mostra da alma e do talento do poeta. Em 2001, editado por Vergara & Riba Editoras, apareceu o belíssimo livro-álbum “Presente de um Poeta”, com pensamentos e versos de Neruda, traduzidos por outro grande poeta, o amazônico Thiago de Mello, ilustrado pela pintora grega Daeni Amecke-Tzitzivakos. Ambos constituem agradáveis reencontros com Pablo Neruda, em verso e prosa.



(17 de março/2007)
CooJornal no 520


Enéas Athanázio,
escritor e Promotor da Justiça catarinense (aposentado)
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC